Na última quarta o Núcelo dePercurssão Cotidiana que acontecia no CANIL_ ocupou sonoramente o espaço do DCE. Sobre o núcleo:
“(...)forjemos um espaço livre, autonomo e radiante, radiante no sentido de irradiar, expandir, agregar.
E se não for de agoras, do que vai ser feitas as transformações?
Nesse caminho surgiu a idéia do Núcleo de Percussão Cotidiana, criarmos um espaço de pesquisa e uso dos sons que habitam nossos cotidianos, voltar a percebe-los para que possamos voltar a construí-lo. Construir o ambiente sonoro que habitamos. O aumento dos ruídos no mundo é cada vez maior, assim como as rotinas se tornam seres autonomos onde as pessoas, que objetivamente constroem esse cotidiano, passam a ser agentes passivos de seu dia-a-dia. Assim, retomando as rédeas do som que habitamos retomamos o olhar dos cotidianos que forjamos. Organizando, de forma invasiva, terrorista, poética, os sons a nossa volta desorganizamos o mundo de aparencia, estático, opressivo e tedioso.
(...)
Leia o texto do Núcleo de Percussão Cotidiana na íntegra:
Íntegra:
À Todos,
Dentro da discussão de uso e irradiação da Ocupação do DCE, nossos encontros do Núcleo de Percussão Cotidiana passam a rolar por lá. O ponto fundamental da discussão segue sendo o uso do espaço, discussão essa que, independente de bandeiras e partidos, só pode se realizar plenamente na ação, ou seja, em práxis novas dos espaços, conseqüentemente, das relações que acontecem no espaço.
Há, dentro desta discussão, uma crítica de uso egóico do espaço, de alienação da 'luta' através de práticas culturais ensimesmadas, de não foco na suposta construção das transformações. No entanto, devemos lembrar que, aqueles que falam de revolução, de luta de classes, de transformação, sem que se fale em revolucionar o cotidiano que habita(mos), as relações concretas e objetivas que construímos dentro do nosso dia-a-dia, sem que, a partir dessa transformação universal-particular das nossas rotinas irradiemos a transformação que acreditamos, esses falam com um cadáver na boca.
Não quero ofender ninguém, nem com isso me posicionar e apoiar aquele grupo ou aquela bandeira, falo por mim, mas deixo claro que a discussão de uso do espaço só pode acontecer ela mesma através do uso do espaço. Assim como a discussão sobre a transformação de sociedade só pode acontecer através dela mesma, ou seja, a busca por ilhas, momentos, lampejos, resistencias, TAZs, deem o nome que preverirem, momentos em que, concreta e objetivamente, mesmo que por alguns instantes, forjemos um espaço livre, autonomo e radiante, radiante no sentido de irradiar, expandir, agregar.
Tudo isso porque Utopia sempre me soou como um saudosismo do futuro, como se nos prendessemos ao passado olhando o futuro, nunca agarrados no agora. E se não for de agoras, do que vai ser feitas as transformações?
Nesse caminho surgiu a idéia do Núcleo de Percussão Cotidiana, criarmos um espaço de pesquisa e uso dos sons que habitam nossos cotidianos, voltar a percebe-los para que possamos voltar a construí-lo. Construir o ambiente sonoro que habitamos. O aumento dos ruídos no mundo é cada vez maior, assim como as rotinas se tornam seres autonomos onde as pessoas, que objetivamente constroem esse cotidiano, passam a ser agentes passivos de seu dia-a-dia. Assim, retomando as rédeas do som que habitamos retomamos o olhar dos cotidianos que forjamos. Organizando, de forma invasiva, terrorista, poética, os sons a nossa volta desorganizamos o mundo de aparencia, estático, opressivo e tedioso.
Buscar dentro da discussão, como já foi dito, um jeito de discurso sonoro que se realiza para o discurso sonoro, não o discurso sonoro como meio de alguma coisa, mas o discurso como discurso por inteiro, à partir da percepção das contradições que vivemos (temas não nos faltam...).
Buscar a totalidade da construção coletiva desse discurso musical, ou seja, um lugar onde, dentro da realidade objetiva, nossa subjetividade possa se inserir sob forma de realização, um discurso que parta de um outro lugar que não essa sobrevivencia fragmentada espetacular, buscar esse lugar de vivencia, longe da sobrevivencia banal que normalmente sujeitamos os nossos cotidianos.
Creio eu que um discurso musical deve passar por isso, por esse jeito de vida, de poesia. Assim como o uso do espaço. Assim como a construção permanente do cotidiano que cada qual habita(mos). Viver, que é vivendo que se sabe que a vida não cabe dentro desse mundo de aparencia organizada, dentro de uma lógica de "sobreviva até ficar velho", "adquira tecnologias de conforto", "desempenhe bem seu papel dentro do espetáculo", "conquiste um lugar mais alto na hierarquia".
Que é vivendo que se evidencia as contradições.
Como a coisa vem andando já podemos elencar alguns verbetes para desenvolvermos nos encontros, que acredito que sejam as balizas que, inconscientemente talvez, estamos sempre tangenciando:
Cotidiano Sonoro
Como o conjunto de sons que vivemos na nossa práxis diária, a tomada de consciencia desses sons e, a partir desta percepção, o desenvolvimento da capacidade de manipulá-lo: música cotidiana.
Particularidade Sonora
Quando praticamos percussão corporal fica mais claro: cada estralo tem um timbre, assim como cada palma, cada som com a boca, com a barriga, com o pé, tem uma particularidade sonora que é daquele corpo específico de quem a realiza. Mas essa particularidade vai além de timbres corporais: todos temos um ritmo particular de andar, de respirar, de produzir som, afinidades rítmicas e sonoras. A idéia é dilatar esse conjunto de particularidades musicais de cada um. Acho que temos conseguido.
Ocupação
O ponto fundamental dos encontros, ainda pouco explorado: ocupação sonora do espaço, de qualquer espaço, através dos sons que o próprio espaço fornece. Dar novos usos a qualquer ambiente através da organização de sua paisagem sonora.
Rafael Presto
16 de maio de 2009
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